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domingo, 27 de septiembre de 2020

Covid-19 leva Aritana Yawalapiti, o diplomata do Alto Xingu



Por Marcio Camilo/Amazônia Real

Líder reconhecido mundialmente, que ficou duas semanas internado numa UTI de Goiânia, lutou por décadas pelos direitos dos povos indígenas.

A perda do Xingu inteiro. A morte de Aritana Yawalapiti, de 71 anos, para a Covid-19, representou um duro golpe para parentes, amigos e indígenas de várias etnias. O “diplomata do Alto Xingu”, uma das várias lembranças associadas a Aritana, morreu na manhã desta quarta-feira (5), depois de duas semanas de internação na UTI de um hospital de Goiânia (GO).

Em nota de falecimento, a família do cacique destacou que Aritana era uma das maiores e mais antigas lideranças do Alto Xingu. A nota destaca que ele foi nomeado cacique aos 19 anos de idade, durante a década de 1980.

“Ele era um dos últimos falantes do idioma tradicional de seu povo, o Yawalapiti, mesmo nome da etnia. Além de guardar a memória de sua língua natural, Aritana também falava português e outros quatro idiomas tradicionais indígenas”, destacou a nota.

“A perda do meu tio Aritana é a perda de 98% da nossa língua. Significa para a gente muitos desmontes”, lamentou a liderança Watatakalu Yawalapiti, sobrinha do grande líder, a quem também chamava de pai, em nota de pesar divulgada pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).

É ela quem resumiu que, sem a presença de Aritana, uma das maiores e mais antigas lideranças indígenas do País, a Terra Indígena Xingu se torna ainda mais ameaçada. Para ela, os jovens precisam agora transmitir os conhecimentos deixados por Aritana.

Até antes de ficar doente, Aritana tinha lançado uma mobilização para construir um hospital de campanha no Alto Xingu, para defender o seu povo contra a disseminação do novo coronavírus.

“Lutou até o último momento contra a religião do homem branco que estava entrando na nossa aldeia. É uma perda irreparável para minha família. É um buraco que se abre debaixo dos nossos pés”, afirmou Watatakalu.

Na nota de pesar, a Coiab resumiu: “Era um grande defensor da luta pela preservação e perpetuação da cultura de seu povo para as novas gerações, e constantemente denunciou o efeito do desmatamento no entorno do seu território, como extinção de peixe dos rios e contaminação das águas”.

A morte de Aritana teve repercussão internacional, com sites estrangeiros noticiando o óbito dele, como a agência Reuters e o francês Tribune de Géneve.

A Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica), que representa nove países, também manifestou condolências em sua rede social.

Poliglota, Aritana era um dos últimos falantes de sua língua tradicional, yawalapiti, mas também se comunicava em caribe, tupi e na língua portuguesa. Isso o tornava uma liderança respeitada por outras etnias.

Ana Paula Xavante, que se identifica como prima de consideração do grande líder, ressalta que Aritana era conhecido como o “grande diplomata do Xingu”, muito cordial, e apesar de cacique, escutava a todos, sendo muito democrático em suas decisões.

“O Brasil perde hoje, talvez, o indivíduo indígena mais importante. Aritana era esse homem fabuloso, íntegro, capaz de seduzir príncipes e receber reis, presidentes de Repúblicas, era uma pessoa de um grande caráter e sem vaidades”, resumiu Adelino Mendez, amigo de longa data de Aritana e antropólogo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A promotora do Ministério Público Estadual de Mato Grosso, Solange Linhares Barbosa, que atuou na comunidade alto-xinguana, escreveu em suas redes sociais: “Lutou até o último segundo, como o grande guerreiro Yawalapiti que sempre foi. O seu legado não tem tamanho e nunca será esquecido”.

O DRAMA DOS ÚLTIMOS DIAS

Em 19 de julho, Aritana estava em sua aldeia quando teve uma crise respiratória e, a partir dos sintomas, foi diagnosticado com Covid-19. Em seguida foi internado em um hospital de Canarana (MT). Ele era hipertenso. Dois dias depois, seu estado de saúde se agravou, e ele precisou ser transferido para um hospital de Goiânia (GO), que dispunha de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Como os médicos do Xingu não conseguiram UTI aérea, ele teve que fazer uma viagem de ambulância, de mais de mais de 10 horas, com um cilindro de oxigênio, até chegar à unidade em Goiânia.

“Foi uma falta de respeito do Estado brasileiro com outro chefe de Estado, por não ter conseguido a UTI aérea. Ele passou um dia inteiro em uma ambulância, com os balões de oxigênio até chegar ao hospital”, criticou Ana Paula Xavante. O caso de Aritana Yawalapiti era grave. Quando foi retirado do Xingu, mais de 50% do pulmão estava comprometido pela Covid-19, lembrou Ana Paula.

No dia 25 de junho, Aritana perdeu o seu irmão Matarywá, conhecido como Juvenil, para a Covid-19. Ele também era outra importante liderança do Alto Xingu. A essa altura, o novo coronavírus já havia se espalhado nas aldeias Yawalapiti.

Em todo o Xingu, vivem 16 povos indígenas. São cerca de 7 mil pessoas, em 114 aldeias. Só no Alto Xingu – onde morava Aritana – residem 11 povos: Aweti, Kalapalo, Kamayurá, Kuikuro, Matipu, Mehinako, Nahukuá, Naruvotu, Trumai, Wauja e Yawalapiti. A terra indígena tem 2.642 hectares de área, com fortes indícios de presença de povos isolados. A disseminação do coronavírus obrigou ao cancelamento, pela primeira vez em 50 anos, do Kuarup – o maior ritual em homenagem aos mortos entre indígenas brasileiros.




A PERDA DE UM AMIGO

À Amazônia Real, o antropólogo Adelino Mendez destacou que Aritana foi um dos grandes responsáveis, juntamente de seu pai, o cacique Kanato Tepori, pelo resgate cultural da sua etnia.

“Passou cinco anos preso, recluso dentro da sua casa, ouvindo os ensinamentos do Kanato, da mãe, dos tios e avôs paternos. Foi um homem preparado na mais alta cultura Yawalapiti, etnia que nos anos 1950 estava desaparecendo. Eles sumiram na década de 1930 e ressurgem após a chegada dos irmãos Villas Boas. Através de alguns contatos como os Kuikuros, são reagrupados, reconstituem suas aldeias e se tornam um povo importante na estrutura social e cultural do alto Xingu”, explicou Mendez.

Estudioso da cultura Yawalapiti, o antropólogo ressaltou que o nome Aritana reaparece há centenas de anos, uma tradição repassada de avô a neto. “Há duzentos anos surgia no nome dele. As pessoas mencionam grandes homens chamados de Aritana. Tataravôs, bisavôs… o nome na cultura xinguana é sempre de avô a neto. Uma geração sim, uma geração não”, ensinou.

“Eu vejo o Aritana como o último Aritana. Aquele cara que você quer ficar perto. Que não sabia o que era ser chefe, sabia liderar, as pessoas o ouviam, ele nunca pedia. Ele só dava. Se chegava uma melancia na aldeia, Aritana dava um pedacinho para todo mundo comer”, recordou Mendez, muito emocionado. “Não era o índio da televisão, mas é o índio do amor, das pessoas. Homem político, inteligente, conhecido no mundo inteiro, que fazia tudo para não sair de sua aldeia. Foi meu irmão, ajudou na minha formação, como antropólogo, como homem”, lamentou.





Marcio Camilo – Jornalista. Matéria publicada originalmente no site Amazônia Real: https://amazoniareal.com.br/covid-19-leva-aritana-

Fonte: Xapuri Socioambiental (Brasil) - 27 de Setembro de 2020

https://www.xapuri.info/coronavirus/covid-19-leva-aritana-yawalapiti-o-diplomata-do-alto-xingu/





domingo, 10 de diciembre de 2017

“Não se paga com milhões a morte de um rio”


A antropóloga Lux Vidal, professora emérita da USP e pioneira nos estudos sobre os Xikrin, diz que a atual contaminação do rio Cateté é a crise mais grave enfrentada pelo povo, que é cercado pela mineração da Vale

Quem são os Xikrin?
O povo Xikrin é um povo Caiapó. Todos os Caiapó se autodenominam Mebêngôkre. Então, são Mebêngôkre os Xikrin. Eles são um dos diferentes povos [Caiapó], que são muitos. Os Xikrin são os que estão entre os rios Xingu e Itacaiúnas. Os outros, que estão do outro lado do Xingu, são os Gorotire, os Mekrãnoti, os Kuben-Krân-Krên, os Metyktire, os Kararaô, também grupos Caiapó, e os Xikrin do Bacajá, que estão perto de Altamira e agora estão sendo atingidos por Belo Monte; eu me ocupei também da demarcação de terras deles. Especialmente porque, quando os Xikrin de Cateté começaram a entrar em negociação com a Vale do Rio Doce e a receber um certo dinheiro, os do Bacajá queriam vir também para Cateté, o que teria sido um desastre, né? Então, foi importante a demarcação do Bacajá também. Os Xikrin de Cateté, eu segui todo processo de recuperação deles depois dos gateiros e madeireiros. A volta dos jovens que estavam espalhados na região, que fizeram a aldeia circular, a aldeia redonda, retomaram os seus rituais, as pinturas corporais. [Desde que eles voltaram para a terra deles], o grupo foi se recuperando, tanto que hoje são quatro aldeias. Desse ponto de vista, se recuperaram.

E a senhora acompanhou esse processo de recuperação?
Sim, de demarcação das terras e da luta contra as madeireiras. Eles sofreram muito com isso aí. E também segui as primeiras relações com a Vale do Rio Doce.

Como foi?
Foi um pouco difícil, mas foi pacífico, né? [A Vale] não estava dentro da área, mas, como estava colada, houve umas compensações para eles. Mas ainda não havia o níquel, [depois] a questão se agravou. E naquela primeira época a Vale ainda era uma estatal; então, em um certo sentido, ainda dava para conversar. Mas, enfim, a gente trabalhou muito, e a gente nunca pensou que chegaria ao ponto em que chegou agora, né? Porque, de repente, o Cateté já era. O fato é que fizeram análises e realmente o rio está poluído. É que o Cateté não é um rio grande, está comprometido, as cabeceiras, tudo. Já naquela época [quando trabalhava com os Xikrin], geólogos, especialmente geólogos canadenses que eu conheci, me falaram: “Olha, Lux, essa área aí a oeste é uma área pensada para níquel. Níquel é a pior das coisas que pode acontecer. É o minério mais poluente, o mais letal que pode existir. Não se pode entrar em contato de jeito nenhum com os dejetos do minério de níquel”. O que eu penso é que os índios nunca se deram conta a que ponto isso poderia ser grave. E pode ser que eles aceitaram alguma compensação da Vale, como foi para o resto. Mas nunca isso poderia ter acontecido. Não se pode deixar à compreensão de pessoas ou de um povo a decisão sobre coisas tão graves. Eles nunca deveriam ter colocado essa mineração aí tão perto, a gente não tem realmente o controle sobre o que pode acontecer. Porque as mineradoras lá vão dizer que está tudo bem, mas nós já vimos no rio Doce o que aconteceu. E pode acontecer a mesma coisa em Xikrin.

E eles têm essa relação de subsistência com o rio e também em uma dimensão simbólica, não é?
A subsistência deles realmente é caça e batata-doce. E também palmito, os frutos assim do mato, coletam castanha para vender. Antigamente eles ocupavam o território deles em diferentes momentos do ano em busca das matérias-primas de que eles precisavam. Eles iam para o norte quando chovia, coletavam castanhas a oeste, e durante o verão passavam dois, três meses no rio Seco, no sul, e faziam caça de pássaros para as penas, o que hoje é proibido, para o artesanato deles. Eles são um povo que faz uma plumária lindíssima, muito bonita. Toda a mitologia deles é muito rica, os rituais deles também são lindos. Os nomes das pessoas sempre se referem a peixes ou a outros elementos da natureza. E a pintura corporal era uma coisa importantíssima e também relacionada aos peixes. Ela teria sido dada pelos invisíveis, pelos sobrenaturais.

E as pinturas corporais fazem referência aos peixes?
O desenho básico mesmo dos Xikrin são espinhas de peixe. Isso você tem em muitos povos indígenas, né? Realmente os peixes são muito aproveitados tanto na mitologia quanto na ornamentação, como em outras narrativas também, no contato dos humanos com os animais. Porque esses seres da natureza são vistos como gente também no mundo deles. Então, a relação era muito próxima, especialmente durante os rituais. Então, nesse sentido o rio já é importante, a água já é muito importante. Mas os peixes têm realmente uma posição absolutamente central na vida, na subsistência e nas crenças e rituais da mitologia. Tudo isso está muito articulado entre si.
 
“O desenho básico mesmo dos Xikrin são espinhas de peixe”. (José Cícero da Silva/Agência Pública)
Existe essa ação jurídica para ter uma compensação financeira por conta dos problemas de subsistência, de falta de alimento, de ter uma alternativa de sustentabilidade…
Sim, mas não pode ter alternativa. É essa a minha a posição, entendeu? Não pode é envenenar o rio, porque você envenena as pessoas. Você não paga com milhões a morte de um rio, não dá. Isso tem que parar.

A senhora acha que este momento que eles estão vivendo é crucial? Porque não é o primeiro desafio que eles enfrentam.
Ah, sim, não é o primeiro, mas é o mais grave. Porque, se o rio está envenenado, o que eles vão fazer? Esse rio atravessa [as aldeias], eles tomam banho, eles bebem daquela água, eles pescam naquela água, as crianças brincam lá dentro. Não tem adaptação a uma coisa dessa. Não tem.

Pode ter água encanada, cesta básica…
Cesta básica, pelo amor de Deus, é o pior que pode acontecer! A cesta básica tem uma alimentação que não é feita para os índios. O bom para eles é a agricultura deles, é a vida deles, é o que eles comem. Eles comem peixe, comem farinha, comem batata. Enquanto o índio tem a caça, tem o peixe, tem a farinha de mandioca, a batata-doce, umas frutas que tem por aí, é a melhor dieta do Brasil. Cesta básica vem o quê? Vem macarrão, vem açúcar, as piores das coisas. Não, não tem cesta básica de jeito nenhum, não é disso que se trata. Não é uma saída para o problema lá deles de jeito nenhum.

Então a solução seria a mineradora parar as atividades?
É. Eu não acredito que eles controlem isso aí, não controlaram até agora. Depois especialmente do que vimos lá com a Vale do Rio Doce, imagina, pode acontecer a mesma coisa.

O Ministério Público acredita que é possível estabelecer um parâmetro de controle mais rigoroso e manter a operação.
Entendi. Tudo bem, eles falam isso, eu não sou obrigada a acreditar. Eu acho que os Xikrin agora entenderam. Porque viram, porque veem a coisa. Às vezes, falar não adianta muito. Eles acham “bom, falam, falam, mas a água está aí, o peixe está aí”. Mas, quando a coisa acontece mesmo, e do jeito que eu vi nos vídeos eles falarem, quer dizer que eles estão se dando conta de que a coisa realmente está pegando aí.

E como a senhora acha que o Estado brasileiro tem atuado com relação aos povos indígenas de uma maneira geral e, especificamente, com os Xikrin?
Ultimamente, por exemplo, as demarcações das terras estão paradas. O que acontece é que nós temos no Congresso uma bancada ruralista muito agressiva e que se aproveita também da fraqueza desse governo, na verdade, para realmente entrar de maneira mais agressiva contra os povos indígenas, com atitudes contrárias, completamente contrárias, aos povos indígenas. A bancada evangélica também é muito forte nesse sentido. A situação com relação aos povos indígenas atualmente não está boa. Tem povos que sofrem muito. Os Guarani, por exemplo, de Mato Grosso. A gente está com medo de um retrocesso realmente. Isso não quer dizer que, devido ao próprio protagonismo indígena, às próprias organizações indígenas, e também devido às organizações não indígenas a favor, as ONGs a favor da causa indígena, não tenha havido progressos nas últimas décadas. Mas nunca definitivo, sabe? Sempre dependendo ou de um governo, de uma pessoa. Não é uma coisa definitivamente estabelecida. A Constituição de 1988 é muito favorável aos índios. Então, eles tiveram reconhecido o usufruto de seus territórios, o uso de suas línguas, de sua cultura, de ter uma educação bilíngue, as escolas indígenas. Então, muitas coisas foram conquistadas. Teoricamente. A Constituição é uma coisa, na realidade a coisa… mas aos poucos também se avançava. Agora eu acho que tem um retrocesso porque essas forças anti-indígenas sempre existiram, mas não com a força e a visibilidade que elas têm atualmente.

Naquele momento inicial, tinha essa questão toda de resgatar a própria população mesmo, mas como era o trabalho de vocês lá?
Bom, para mim, a demarcação. Então, percorrer todo o território com os índios, saber absolutamente tudo sobre o território, aonde eles vão, o que eles fazem, o que eles cultivam, quais são os recursos naturais, tudo que se precisa saber para poder fazer, sustentar uma demarcação. Dentro do possível. Mas tudo foi feito com eles, e até as discussões em Brasília – isso ainda era durante o regime militar –, sempre com os índios. Porque antigamente eles iam muito mais longe. Eles foram encontrados pela primeira vez, na época da pacificação, lá em Conceição do Araguaia. Eles iam até Altamira, onde tem os outros Xikrin. Eles iam muito ao norte também. E até a Carajás eles iam, porque Carajás era tudo, não tinha nada. Eu conheci Carajás, que é uma das maiores minerações do mundo [extração de minério de ferro da Vale inaugurada em 1985], eu conheci sem nada. Tinha só no topo aí, tinha como se fosse uma pista, mas era só do ferro mesmo da montanha, onde o avião pequenininho podia pousar porque não crescia nada. Eu conheci aquilo lá do zero. Então, naquela área eles conheciam, e também uma área mais ao sul do rio Branco. É claro, para demarcação, não se conseguia fazer tudo, né? Então, você tem Vale do Rio Doce aqui com o ouro, ao norte, o cobre, aqui o níquel. E no sul tem a estrada, que também fez muito estrago. Eu conheci aquilo lá tudo floresta. Agora, fora da área indígena, está tudo desmatado, tudo desmatado. Então, [os índios] estão muito presos em uma reserva, mesmo. Porque o que você destrói fora tem a sua influência dentro também. 
Você destrói tudo ao redor. Você vê no Xingu, agora pega fogo, né? Xingu pega fogo? Uau.

E essa relação com a mineração? Como os indígenas receberam a mineração nessa localidade?
A mineração não estava dentro da área indígena. Só que ela estava bem na beira, e, por eles estarem a 50 quilômetros da ferrovia e do projeto da Vale, ela tinha que dar compensações. Porque não foram só os Xikrin, foram também os Gaviões, foram os Suruí, foram os Guajajara. Todos esses povos também receberam indenização [da Vale], e os Xikrin a mais porque eles são os que estão mais perto. Porque têm influência. Então, eram 50 quilômetros de um lado, 50 do outro lado da ferrovia.

E a senhora tem planos de voltar à Terra Indígena?
Ah, eu sempre tenho planos de voltar, mas é que eu trabalho muito no Oiapoque e na fronteira com a Guiana Francesa, lá com quatro povos: os Palikur, os Galibi-Marworno, os Galibi-Kali’na e os Karipuna. Isso desde os anos 1990. São povos que já passaram por tudo porque eles estão na fronteira, aonde os invasores chegaram primeiro. Então, são séculos de contato lá. Então, é muito diferente porque o contato dos Xikrin com a sociedade não indígena e com todos esses problemas de empresas e madeireiras foi muito brutal, foi realmente de uma maneira muito drástica, né? Sem muito tempo de pensar e de se acostumar. Isso foi muito grave para os Xikrin, foi muito grave para eles. Foi muito rápido, ter que assimilar coisas totalmente diferentes.

A senhora nota marcas disso nos Xikrin de agora?
Ah, agora já estão mais acostumados. Têm escola, têm tudo. Isso, a escola, não tinha nem começado quando eu estava lá. A Funai estava experimentando um pouco, mas não tinha. Quando eu cheguei lá, eles eram monolíngues. No Oiapoque é diferente: três séculos que eles falam português, falam francês também, porque aquela região era francesa. Eles falam patuá, falam crioulo, muito misturado. É uma situação totalmente diferente. Então, você tem também no norte da Amazônia essa situação. Os Xikrin não, os Xikrin são um povo isolado, no Brasil Central, bastante isolado, e realmente as mudanças chegaram muito, muito rapidamente. Com reações meio surrealistas às vezes. Mas é isso aí.

A subsistência deles realmente é caça e batata-doce”. (José Cícero da Silva/Agência Pública)

É interessante porque a gente fala de um modo geral dos índios da Amazônia, mas…
Ah, não, a diversidade de situação é muito grande. Claro que todos os povos indígenas têm algumas coisas em comum, que é um tipo de vida que geralmente se leva, a relação com a natureza, e também a relação com os outros mundos, com o sobrenatural, que para eles é uma coisa muito real e muito próxima. Através dos sonhos, através do xamanismo. Eles têm uma relação com o sobrenatural muito diferente da nossa, uma filosofia muito diferente da nossa nesse sentido. Isso é muito importante, isso você tem com todos os povos. Então, tem uma coisa realmente ameríndia. Agora, as situações, como cada um vive essa situação, digamos, como cada um vive essa relação com a natureza, com a sobrenatureza, ela difere muito de cultura a cultura. E difere ainda mais hoje em dia, que as mudanças são muito rápidas. Então, essas situações também não são só rápidas, elas são também muitas vezes erráticas, entendeu? Contraditórias, também. Às vezes melhora um pouco, às vezes piora.

Seus filhos trabalham também com indígenas. Foi por que a senhora os levava em suas viagens quando crianças?
Minha filha é bióloga, ela foi comigo e foi fazer o trabalho dela lá. E até hoje ela é consultora de assuntos indígenas. Ela levou um neto também uma vez. Meu filho também foi uma vez, mas é artista plástico. Ele trabalha mais com os Suruí, em Rondônia. Mas a minha casa estava sempre cheia de índios. Então, desde criança eles estavam habituados, né? E como nós somos estrangeiros, não tem família aqui. Não tem avós, não tem tios, não tem nada. O que tinha era nós e os índios.

Hoje a senhora trabalha no Oiapoque. A relação é parecida com a que desenvolveu com os Xikrin? A senhora tem parentes no Oiapoque também?
Não, lá no Oiapoque, a relação já é diferente. Quando nós chegamos lá, a terra já tinha sido demarcada… E lá eu era uma pessoa entre tantas outras, entendeu? É muito diferente da situação quando cheguei no Xikrin, que eu tive que morar lá na casa deles e viver a vida com eles. E, se você faz a vida com eles, você tem que entrar numa relação de parentesco, porque senão como é que você come? Onde é que você fica? Quem se preocupa com você? Quem é que você é lá dentro? Isso já mudou, a relação hoje é diferente. Agora, o trabalho que eu estou fazendo no Oiapoque é, na realidade, a capacitação dos índios para eles mesmos fazerem as suas pesquisas, montarem as exposições e também serem os autores de suas publicações.

Escrito por José Cícero da SilvaNaira Hofmeister

Fuente

Publica (Agencia de Reportagem e Jornalismo 
Investigativo) – 7 de Diciembre de 2.017

A antropóloga Lux Vidal (Foto: José Cícero da Silva/Agência Pública)


sábado, 11 de noviembre de 2017

Xingu: El ritual de Jawari




Otro rito que involucra la invitación a otras aldeas es el Jawari, realizado a mediados del mes de julio. Se trata de una serie de disputas, cada una entre individuos de etnias diferentes, ubicados a alrededor de seis metros de distancia uno del otro. Cada uno a su turno le arroja dardos al adversario intentando alcanzarlo en el sector del cuerpo que comienza de la cintura y se extiende hacia abajo. Los jugadores se protegen escondiéndose, esquivando los proyectiles o saltando hacia la parte posterior de un haz de varas que no pueden mover del suelo. Los dardos presentan en sus puntas unas bolas de cera y sus tallos están cubiertos por la corteza de un tipo de coco (coco de tucum) denominado Jawari en lengua Kamaiurá, que es como el rito es más conocido. Esta corteza presenta orificios que provocan un silbido cuando los dardos son arrojados. Los proyectiles son lanzados con la ayuda de un propulsor, instrumento ampliamente difundido en el pasado pero que en la actualidad, en el Brasil, sólo existe en el Alto Xingu y cuyo uso sólo se limita a este juego.

Ritual Jawari por Renato Soares

Para la realización del rito, tres emisarios –uno principal y dos auxiliares- son enviados a la aldea invitada que comparece en el día combinado siendo recibida por los mismos emisarios que les entregan cauim (bebida alcohólica hecha a través de la fermentación de la mandioca o del maíz) y beijus. Los invitados montan su campamento fuera de la aldea. Al día siguiente entran en la misma para realizar la disputa.

En los días anteriores al juego, los adversarios entrenan asiduamente sus habilidades usando como objetivo un muñeco construido de follaje y atado con embira. También deben de haber evitado mantener relaciones sexuales así como el consumo de pescado.

Una vez finalizada la disputa, son ofrecidos alimentos a los visitantes. Junto a una olla de cerámica, algunos dardos y propulsores de uno y otro grupo son rotos e inmediatamente quemados. Terminada la comida, los invitados parten nuevamente a su aldea.

Fuente: Povos Indigenas no Brasil 
https://pib.socioambiental.org/es/povo/xingu/1549


viernes, 29 de septiembre de 2017

Nostalgia del Xingú


Nostalgia del Xingú, nostalgia de la floresta y de los ríos, 

nostalgia del vuelo de las aves, del canto de los pájaros, del 

ruido del agua golpeando las piedras. Nostalgia de la lluvia que

 lava el rostro y moja la tierra. Nostalgia del tiempo en el que 

era niño y no me cansaba de jugar y sonreír.

Aquí en la ciudad parezco enloquecer con los ruidos que me 

atormentan el alma. Auto, política, televisión, celular, internet, 

informaciones inútiles de la futilidad humana de los tiempos 

modernos. Divagaciones, intemperies de los escritos.

Necesito viajar urgente!!!

Renato Soares



sábado, 6 de mayo de 2017

Pesca en el Xingu



Era el final de la tarde. Al llegar a la aldea Wauja, apenas 

tuve tiempo de tomar mi cámara fotográfica y correr en

 dirección al río, para donde las mujeres se dirigían. 

Ellas llevaban potes con un preparado para proteger a sus 

hombres durante la gran pescaría que antecede al Kuarup.

Luciola Zvarick

(Texto y Fotografía)