Un espacio destinado a fomentar la investigación, la valoración, el conocimiento y la difusión de la cultura e historia de la milenaria Nación Guaraní y de los Pueblos Originarios.

Nuestras culturas originarias guardan una gran sabiduría. Ellos saben del vivir en armonía con la naturaleza y han aprendido a conocer sus secretos y utilizarlos en beneficio de todos. Algunos los ven como si fueran pasado sin comprender que sin ellos es imposible el futuro.

Mostrando entradas con la etiqueta Kaingangs. Mostrar todas las entradas
Mostrando entradas con la etiqueta Kaingangs. Mostrar todas las entradas

martes, 16 de marzo de 2021

Mulheres guarani e kaingang recuperam costume ancestral da produção cerâmica



João Vicente Ribas*

O Festival de Cinema de Gramado premiou em 2019 o filme Kerexu, que mostra a cultura ceramista na aldeia Flor do Campo, em Barra do Ribeiro. O curta-metragem é uma amostra da gradual retomada desta prática indígena no Rio Grande do Sul. A protagonista, a mbyá-guarani Antônia Garai (Kerexu Jera Poty), está entre as poucas mulheres que usufruem de bom acesso à argila e que, com apoio de pesquisadoras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), desenvolvem um projeto de perpetuação da produção, que inclui convivência, elaboração de materiais didáticos e auxílio na comercialização.

Já no Norte do Estado, o território indígena da Serrinha é um dos locais da retomada kaingang. Lá foi constituído em 2005 o primeiro Ponto de Cultura do Brasil dentro de uma área indígena. A iniciativa garante a revalorização da língua, por meio da escrita e das práticas culturais, como a cerâmica. As mulheres daquela região precisaram buscar as técnicas ancestrais de coleta, moldagem e queima junto a outras aldeias, quando perceberam que não restava um único ancião que lembrasse e pudesse ensinar as novas gerações. Uma dessas mulheres é Susana Fakój Kaingáng, que celebra: "Há uma retomada da terra por meio do barro, da argila".

Os kaingangs e os guaranis possuem as maiores populações indígenas sobreviventes às sucessivas opressões e políticas de extermínio no território que hoje é o Rio Grande do Sul. Ao longo do tempo, foram forçados a se adaptar a terras diminutas e acabaram não conseguindo mais praticar a cerâmica, uma de suas características culturais mais marcantes, desde a pré-história.

A falta de acesso a barreiros que fornecem argila propícia para moldar acaba, por consequência, eximindo-os de rituais e conexões espirituais importantes. O antropólogo e professor da Ufrgs Sergio Baptista da Silva chama atenção que, para a cosmologia e ontologia destes povos, a retomada das terras é a retomada de um território existencial particular: "Uma atitude política de se mostrar para o mundo externo, mas também como uma forma de implementação da sua diferença". As tradições, o xamanismo, as práticas culturais como a cerâmica, estão todas interligadas à terra. Para os guaranis e os kaingangs, as relações com outros seres, outras alteridades, outros domínios, para além do que nós chamamos no Ocidente de natureza, evocam poderes, curas, visões, proteção. "Animais e plantas são considerados pessoas com cultura, poder, sentimentos e vontades", observa. Por isso, o próprio barro é considerado um ser, implicando uma relação essencial com o território.

No entanto, os barreiros encontram-se em geral próximos a veios de água. E a colonização empurrou-os para o interior, junto a uma escalada de preconceitos e repressões. O xamanismo foi visto como coisa do demônio. Assim, foram perdendo algumas técnicas, mas mantiveram outras. Atualmente, vive-se um tempo propício à recuperação da cerâmica, pois nas recentes retomadas de terras, estão ocupando territórios mais próximos de rios, o que lhes devolve o acesso ao barro. Consequentemente, a conexão com uma cosmologia particular.

Nos três estados do Sul do Brasil vêm ocorrendo retomadas ceramistas. "Percebo um movimento muito inicial e incipiente. Pipoca aqui e ali", constata Baptista da Silva. Com apoio de pesquisadores, ONGs e poderes públicos, kaingangs e guaranis buscam conhecer as técnicas observando os fragmentos arqueológicos, com o compromisso de perpetuar as tradições ancestrais. A retomada da música guarani e ações de turismo também fazem parte deste movimento de positivação da cultura indígena em torno da sustentabilidade.

Para além dos contatos superficiais que se tem com as "artes" indígenas na beira das estradas, no Brique da Redenção em Porto Alegre ou nas estações rodoviárias Estado afora, esta reportagem procura oferecer um mergulho nas origens e formas atuais de produção. Para superar esse olhar "de fora", é necessário entender primeiro que a noção de Arte, tradicionalmente, não está presente nos povos ameríndios. O antropólogo Baptista da Silva comenta que a expressão estética é muito mais dos brancos. Para os indígenas, o principal na produção de objetos é "a materialização do encontro com alteridades, sejam divinas ou extra-humanas". Por isso, a ideia de autoria tampouco se faz relevante, visto que a produção é sempre coletiva, ligada à vida cotidiana e aos rituais.

Guaranis comunicam-se com alteridades




Antônia percorre alguns metros na beira da BR-116, portando um facão e uma sacola. Chega a uma ponte, próxima à aldeia Flor do Campo (Tekoá Nhu'ú Poty), localizada junto à vinícola Laurentia, em Barra do Ribeiro (RS), a 60 quilômetros de Porto Alegre. Desce o barranco até um barreiro vermelho na beira de um córrego e passa a coletar material.

Essa cena, que foi cotidiana para Antônia nos últimos anos vividos naquela aldeia, também ficou registrada no filme Kerexu (2019), premiado no Festival de Cinema de Gramado. No curta-metragem dirigido por Denis Rodriguez e Leonardo Remor, o espectador é convidado a adentrar a rotina serena e espiritualizada em torno da produção cerâmica. Falando por telefone para a reportagem, utilizando o escasso vocabulário em português que conhece, Antônia comenta que ficou feliz com o prêmio no festival: "Quero saber se as pessoas gostaram, então fico feliz. Pra todo mundo, não só pra mim". Com seu comentário, podemos notar que esse feito, notável para o mundo individualizado das Artes, ganha uma dimensão compartilhada em seu entendimento.
Já quando perguntada sobre o que a leva a produzir cerâmica, justifica que gosta de trabalhar e explica a conexão espiritual. Revela que sua mãe lhe ensinou a importância de fazer e utilizar o petynguá (cachimbo) e que percebe sinais de Nhanderu (os deuses na cultura guarani) para perpetuar a prática. Antônia exemplifica: "Quando tá doente, faz reza, faz fumaça na cabeça dela, pra espírito".

Hoje, aos 57 anos, vivendo na aldeia (tekoá) Guabiju, em Cachoeira do Sul, segue produzindo cachimbos, vasilhames e miniaturas de animais. Mudou de morada no início da pandemia por desavenças com o cacique e para ficar mais próxima da mãe, que está com 95 anos. Agora, faz questão de contar que ambas já estão vacinadas.

Entre um intervalo e outro sem sinal de celular, Antônia reestabelece a conexão e conta que em Guabiju a terra é boa para a cerâmica. Tem argila branca e preta, o que é diferente para quem cresceu moldando a argila vermelha de Barra do Ribeiro. Após alguns anos de experiência junto ao projeto da Ufrgs, está ensinando as crianças da nova aldeia e quer seguir vendendo as peças produzidas.
A argila também é usada em Guabiju para a construção e manutenção da casa de reza, a opy, como uma espécie de pau-a-pique. "Quando não estou bem, entro na casa de reza. Se não levanto bem, entro pra fumar cachimbo", relata Antônia. Opy é o espaço onde a comunidade mbyá guarani aprende os saberes e os valores, imergindo em seu sistema cultural.

O antropólogo Sérgio Baptista da Silva contextualiza historicamente, afirmando que os guaranis foram deixando de fazer vasilhas de cerâmica por causa da funcionalidade, com a vinda de outros materiais. Mas o cachimbo seguiu como uma expressão muito forte da possibilidade das relações com os deuses, através da fumaça. "Todo e qualquer guarani fuma petynguá, para ter bons sonhos, para receber a palavra divina, tornar-se calmo", assegura. Por isso, manteve-se a relação diária com o tabaco, que é considerado um alimento. "Guarani que fuma torna-se outro e faz contato com Nhanderu", conclui.

"Na convivência, vamos saindo da ignorância"


Hás 13 anos, a professora de Artes Visuais da Ufrgs Cláudia Zanatta foi informada que havia na aldeia Flor do Campo uma mbyá-guarani produzindo cerâmica, o que tem sido raro ultimamente. A dica veio de colegas da universidade que já prestavam assessoria no local onde vivem cerca de 40 guaranis em 4 hectares de terra, em meio a obras de ampliação de uma rodovia. Desde então, passou a desenvolver também um projeto de arte participativa.

A mbyá-guarani era Antônia. Depois daquele primeiro contato e de mais de uma década de projeto conjunto, a ceramista inclusive já foi na Ufrgs dar aula. "A universidade aprendeu muito numa trajetória longa e hoje nós buscamos uma perspectiva que não seja a colonial. Buscamos metodologias de estar junto, em parceria respeitosa, numa troca, numa confiança. Nunca fomos lá ensinar algo, pois elas têm a sua técnica", relata Cláudia.

No caso das mulheres kaingangs, elas que tomaram a iniciativa de procurar a universidade, após encontrar um barreiro no território da Serrinha. Com esse suporte, têm promovido oficinas de convívio, faladas em seu idioma, trabalhando no seu tempo. Com isso, possibilita-se uma experiência intercultural, que permite ao estudante sair da "redoma do campo artístico". "Quando o estudante começa a ter outras perspectivas, emerge uma relação de encantamento", conclui Cláudia.

A professora também destaca o protagonismo das mulheres nessa retomada. "A mulher indígena é bem silenciosa. Enquanto brancos, demoramos a entender essa dinâmica. Tem algo que passa pelo cuidado. É muito raro ver uma criança indígena abandonada. Não há relação de inferioridade, como cuidadora. É num aspecto bem mais amplo, de conexão com a espiritualidade", observa. Por isso, Cláudia intui que "na convivência com elas, vamos ampliando horizontes e saindo da nossa ignorância".

Etapas da produção cerâmica



Pode-se afirmar que guarani e kaingang possuem similaridade na produção cerâmica. Por exemplo, usam modelagem por pressão ou rolinhos. Na preparação das argilas, misturam areia, pedrinhas e outros compostos.

No quadro a seguir, enumeram-se as etapas de produção em aldeias que possuem acesso à argila.

Tudo começa no barreiro, que é como se fosse uma jazida. "A terra argilosa tem uma característica geológica específica, que ao modelar não esfacela, e não é comum encontrar", explica Cláudia Zanatta, professora da Ufrgs.

Já na última etapa, da queima, os projetos conjuntos vêm proporcionando a diversificação das técnicas, incluindo a construção de fornos.

1. Coleta: de argila limpa de barreiros, seca ou molhada

2. Refinamento: terra é moída, peneirada e misturada com água até formar uma pasta

3. Modelagem: com as mãos e artefatos, como pequenas facas

4. Polimento: com a semente mucunã (olho-de-boi)

5. Secagem: ao sol ou à sombra

6. Queima: em fogueira aberta ou forno artesanal

Kaingangs reestabelecem equilíbrio

Susana Fakój Kaingáng entra na sala virtual para a entrevista com a reportagem por meio do Google Meet. Na tela, aparece sentada em frente a uma porta rústica de madeira, em uma sala de paredes brancas. O preto de sua roupa e da armação de seus óculos contrasta com o colorido dos brincos de penas na imagem emitida desde a Terra Indígena da Serrinha (Fág Kavá). A reserva situa-se entre os municípios de Constantina, Engenho Velho, Três Palmeiras e Ronda Alta, a cerca de 90 quilômetros de Passo Fundo. Possui população de 1.760 pessoas e área de 12 mil hectares, em meio à Mata Atlântica.

Susana é advogada e cursa doutorado em Educação na Ufrgs. Recentemente, em 2019, contatou a professora Cláudia Zanatta com a notícia de que havia coletado argila em sua região. Em seguida, promoveram as primeiras oficinas do projeto Recuperando a prática da cerâmica kaingang, ao lado de outras mulheres, jovens e crianças. Já em janeiro de 2020, convidaram a kujà (liderança espiritual) kaingang Iracema Ga Râ Nascimento, que foi de Nonoai à Serrinha para uma semana de convivência. "Aqui não tinha nenhum velho que pudesse ensinar a gente", relata Susana.

Os kaingangs também têm como costume pintar o corpo e utilizar adornos, principalmente em rituais. São considerados um povo guerreiro. "Ou eu mato ou eu morro", sintetiza Susana. A organização social interna e a cosmologia kaingang giram em torno de duas metades, kamé e kairu, expressas em grafismos na confecção de cestas, pinturas e nas próprias cerâmicas.

Na convivência com a kairu Iracema, as mulheres kamé da Serrinha aprenderam técnicas para evitar que as peças de argila trincassem após a secagem. "Iracema explicou que no processo de mexer com o barro é preciso as duas metades, porque são complementares", conta Susana. "Enquanto kamé não tem tanta paciência, kairu alisa, amassa, conversa com a peça, às vezes ficam até um mês fazendo uma peça", analisa.

A kaingang comenta que o tempo que se vive hoje, na universidade por exemplo, é bem diferente do tempo da aldeia. Por isso, a produção não é em grande escala. "O tempo da cerâmica é o tempo de parar, é mais leve, traz paz", diz Susana.

Perpetuação de tradições arqueológicas

A identificação com as tradições arqueológicas fica evidente na comunidade da Serrinha, quando revelam o desejo de retomar a marcação das peças cerâmicas com os grafismos típicos das metades, bem como já fazem na cestaria. Para o professor Sergio Baptista da Silva, esse é um reconhecimento da própria iconografia do cosmos, pois a divisão sociológica dos kaingangs em duas metades é ampla, inclui todos os seres, seja animal, mineral ou fenômeno atmosférico. O antropólogo explica que nas metades há uma lógica assimétrica: "Diferencia os participantes, mas são complementares. Quando se juntam, têm mais potência".
Historicamente, a continuidade das tradições corre risco de declínio, quando desarraigadas dos contextos. No caso dos guaranis, marcados pela experiência jesuítica nas Missões, a sobrevivência dos acervos patrimoniais étnicos ocorreu basicamente entre os indígenas não submetidos ao projeto missional. É o que explica a coordenadora do Laboratório de Cultura Material e Arqueologia da Universidade de Passo Fundo (UPF), Jacqueline Ahlert: "A arte plumária se viu diminuída pelo enfraquecimento do poder e presença dos xamãs; a cerâmica em algumas de suas finalidades, como funerária e cerimonial, igualmente".
Porém, apesar do "controle" dos padres, Jacqueline adverte que os guaranis conservaram a identidade cultural, através do intercâmbio de tecnologias. Pesquisas arqueológicas demonstram a presença de diferentes tipos de recipientes, que mesclavam confecção e acabamento de formas guarani e europeia. A pesquisadora confirma que as mulheres conservaram as práticas tradicionais em espaços restritos aos indígenas, enquanto "os homens também passaram a produzir utensílios de cerâmica, contudo, dentro da área jesuítica, empreendendo técnica e forma europeia".

Comercialização de peças é processo de resistência



Este é um costume citadino pré-pandemia. O não-indígena (juruá para os guaranis e fóg para os kaingang) caminha a avenida José Bonifácio aos domingos, jogando palavras ao vento, desviando de seus pares que empunham garrafas térmicas e cuias, enquanto verifica uma diversidade de ofertas na feira. Entre antiguidades do século XX, obras artísticas e peças de artesanato, faz um brique aqui, outro ali. Segue carregando as compras, até chegar ao cruzamento com a avenida Osvaldo Aranha.

Naquele ponto, juruá encontra famílias cheias de crianças e mulheres comercializando cestos e esculturas de madeira. Ora sentadas junto ao meio-fio, ora em pé entoando cantigas. Guaranis se impõem discretamente no asfalto, oferecendo um colorido caprichado para sensibilizar juruá e garantir seu sustento, mesmo que tradicionalmente sua cestaria seja em tons alvos e beges.

Alguns passos adiante, fóg chega junto a algumas bancas intercaladas com outros expositores, onde aprecia com os olhos e com as mãos colares, pulseiras e objetos de cipó. Ocupando o espaço ombro a ombro com as regras da prefeitura, kaingangs negociam suas criações para perpetuar sua existência e levar o mato para dentro da casa do fóg.

No passeio pelo Brique da Redenção, não raramente, ocorrem pensamentos sobre a descaracterização da cultura indígena. Mas o antropólogo Sérgio Baptista da Silva ajuda a compreender essas práticas de comércio como um meio de sustentabilidade: "Certa vez, uma mulher mbyá comentou comigo que Nhanderu já havia previsto que um dia eles teriam que vender suas cestas para poder sobreviver". Já os kaingangs sempre foram ligados ao brique e ao costume de trazer pra dentro de sua sociedade os seres externos. Pode-se encontrar colares do início do século XX com dentes de animais misturados a moedas e cartuchos de bala, o que revela incorporação de elementos. "Os kaingangs dizem que cada vez que eles vendem um material para um fóg, um cestinho por exemplo, o mato está indo pra dentro da casa dos brancos", observa. Nessa cultura, o cipó é um ser, tem agências, tem propriedades. Para o professor da Ufrgs, isso reforça a ideia de que não há descaracterização com a venda. Afinal, são outras lógicas que estão sendo pensadas. Durante a pandemia, inclusive, continuam vendendo via internet (kaingangceramica.wixsite.com/website).

Cláudia Zanatta reforça que os indígenas não estão parados no tempo: "Nós brancos queremos um índio fossilizado, enquanto eles estão nos dois mundos". Sobrevivem em um lugar que não tem água boa e não conseguem caçar, então precisam buscar recursos de outro modo. "A confecção de animaizinhos é uma forma. Não está na cultura deles originalmente, mas o branco gosta e eles vendem", observa

* João Vicente Ribas é jornalista, doutor em Comunicação pela Pucrs e professor na Universidade de Passo Fundo.

Fonte: Jonal do Comercio - Porto Alegre - Brasil
Reportagem Cultural - 11 de Marzo de 2021.

https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/especiais/reportagem_cultural/2021/03/781904-mulheres-guarani-e-kaingang-recuperam-costume-ancestral-da-producao-ceramica.html?fbclid=IwAR0vwJjHeOOrdiJZcayEyMk3Iqma-7rxEI3hOIKoiSVL1OwSHp4h5OMMEoE#.YEtmEYaa5kE.faceboo








martes, 8 de septiembre de 2020

Arqueología en la Provincia de Misiones: Clasificación y tipos de Clavas



 Colección del Museo de Prehistoria de Eldorado / Imagen: Eduardo Hildt. Fuente: Prehistoria Eldorado
Definidas por el arqueólogo Osvaldo Menghin en la década de 1950, como parte del grupo de las "clavas", estas herramientas líticas de riolita o arenisca son generalmente pequeñas, no superan los 12 cm de largo, a excepción de las angulares que alcanzan los 19 cm de largo. Tienen una amplia dispersión en casi toda la provincia de Misiones (con una mayor concentración hacia el centro y norte). Se estima que poseen una antigüedad no mayor de 4000 años antes del presente, perteneciendo a los grupos de la familia lingüística "Jé", cuya parcialidad histórica más conocida fueron los Kaingang.

Fuente: Prehistoria Eldorado.

martes, 24 de enero de 2017

Povo das Caixas

Sobre o homem branco: "O mundo deles é quadrado, eles moram em casas que parecem caixas, trabalham dentro de outras caixas, e para irem de uma caixa à outra, entram em caixas que andam. Eles vêem tudo separado, porque são o Povo das Caixas..." 

Pajé do povo Kaingang,

recolhida por Lúcia Fernanda Kaingang



domingo, 4 de diciembre de 2016

Los indios de Condá también se despiden de los héroes del Chapecoense


Ataviados con tocados de plumas y lanzas de madera, cerca de un centenar de indios de la etnia kaingang acudió al Arena Condá para honrar a sus héroes después del corto pero costoso viaje que ha supuesto para esta comunidad indígena llegar a la casa del Chapecoense.

Ataviados con tocados de plumas y lanzas de madera, cerca de un centenar de indios de la etnia kaingang acudió al Arena Condá para honrar a sus héroes después del corto pero costoso viaje que ha supuesto para esta comunidad indígena llegar a la casa del Chapecoense.

El olor a incienso inundó por unos instantes el improvisado memorial habilitado por el club brasileño, donde la hinchada del "Chape" deja emotivos mensajes para los miembros de la plantilla que fallecieron a causa del fatal accidente que sufrió la aeronave en la que viajaban.
"Venimos aquí a homenajear a nuestros guerreros, ellos llevaban la alegría a este pueblo", afirma a Efe Maximio Reis, uno de los líderes de la aldea Condá, una reserva indígena que se encuentra a 20 kilómetros de Chapecó.
La aldea comparte el nombre con el estadio del Chapecoense, el cual hace referencia a un histórico cacique, Vitorino Condá, que dominó esta región, hoy enmarcada en el estado de Santa Catarina, en el sur de Brasil.


Condá pasó a la historia por ser un líder carismático que, a mediados del siglo XIX, luchó con bravura por mantener estas tierras propiedad de los kaingang contra las fuerzas del imperio luso-brasileño y los latifundistas de la época, ansiosos de imponer sus propias reglas y esclavizar a los nativos.

Décadas después, su estirpe vive hoy en un asentamiento agreste levantado de la nada, con hogares hechos con tablas de madera, diáfanos por dentro y de cuyos techos cuelgan las cuerdas para tender las ropas.

Aunque hay alguno con los colores del Barcelona, los habitantes de Condá son fieles seguidores del Chapecoense, pues, los que pueden, no dudan en vestir la elástica verde de este club y sacar un rudimentario balón para jugar un rato al fútbol.
La afición actual del malogrado "Chape", conocida en Brasil por su intensidad durante los partidos, tomó el carácter recio y combativo de este pueblo que persiste con el paso del tiempo y que ahora también lamenta la pérdida de sus "guerreros".

Venir hasta el Arena Condá no ha sido fácil para esta comunidad, ya que para su acceso hay que pasar por caminos de tierras, y aunque la distancia entre el estadio y su aldea es relativamente corta, los recursos que tienen en su reserva son limitados.

"Somos muy seguidores del Chapecoense pero no tenemos las condiciones para venir aquí a los partidos. Hoy principalmente hicimos el esfuerzo de ayudarnos los unos a los otros para poder pagarnos un transporte", explica a Efe Yissel Lepodino.
En la comitiva indígena que se ha acercado hasta el feudo del Chapecoense abundan los menores de edad, adultos que bailan y cantan delante de la camiseta del club y hasta una pareja de ancianos, todos ellos con los colores verde y blanco en la cara.
Delante del memorial en el Arena Condá, repleto de misivas de cariño y ramos de flores, los indios se formaron en fila e hicieron varios rituales para que el espíritu de Condá lleve a los fallecidos el sufrimiento de su pueblo y para "evitar más problemas dentro de este desastre".

"La tragedia fue muy chocante", se lamenta Reis.

Los kaingang también hicieron un "ritual de defensa" para que aquellos que no se subieron a ese avión "estén protegidos" cuando viajen en el futuro.

"Venimos aquí para dar fuerza", comenta reiteradamente.

Después de una media hora en la que se convirtieron en el centro de atención, la delegación indígena volvió a su aldea y afirmó en su despedida que la historia del club "está grabada en la memoria y los corazones" de todos ellos, algo que hará volver con más fuerza al conocido como "Huracán del Oeste".

Fuente: EFE - 3 de Diciembre de 2.016


Chapecó, tierra de guerreros


La tragedia del Chapecoense llevó a toda su comunidad a considerar como guerreros a los futbolistas fallecidos, una suerte de legatarios del mítico líder kaingang Vitorino Condá.

Chapecó siempre fue tierra de guerreros. Así era Vitorino Condá, el líder indígena kaingang que a mediados del siglo XIX luchó para que su pueblo conservara las tierras del oeste de Santa Catarina. Su leyenda bautizó el estadio del Chapecoense, un equipo que tuvo que pelear mucho para hacerse grande, hasta que la tragedia del pasado lunes los dejó desolados. La estatua del Cacique Condá, que custodia la llegada al estadio Arena Condá, se encuentra ahora rodeada del luto de esta ciudad sureña, que hasta su madrugada más terrible planeaba los festejos de su centenario en 2017, con el sueño de celebrarlo junto a la Copa Sudamericana.

Por estos días en que toda una ciudad se prepara como puede para recibir y honrar a sus muertos, nos detenemos brevemente en la figura del mítico cacique, quien según refiere la historia tenía derecho sobre el territorio que ocupaba con su comunidad, estableciendo resistencias contra los colonos, y que fue capaz de asegurar que los kaingang continuaran viviendo como hombres libres en sus propias tierras ancestrales.


Hoy en día, el pueblo Conda está a unos 15 kilómetros del centro de Chapecó y su nombre, a pesar de ser entendido como un símbolo de resistencia cultural, es visto por los chapecoenses como un emblema de la unidad y la paz, valores que representan una ayuda espiritual en estos tiempos tan funestos para las familias de las víctimas.

En las montañas de Medellín, se quebró el equipo que consiguió ilusionar a Chapecó en un tiempo presente poblado de conflictos económicos y sociales, un equipo que representaba los valores de un pueblo que no renegó de su pasado histórico, que lo llevó a bautizar su estadio con el nombre de un cacique, uno de los pocos casos en América Latina.

Dicen que en uno de los arcos del estadio del Chapecoense se puede leer una pancarta que la hinchada ha dejado en gratitud a estos héroes: "eternamente campeones, gracias guerreros".

Que el espíritu del mítico Vitorino Condá acompañe a estos deportistas y de consuelo y templanza a su gente.

Fuentes:
El Orejiverde
AFP
https://www.afp.com/es/noticias/210/la-batalla-mas-dura-de-los-guerreros-de-chapeco
Vavel
http://www.vavel.com/br/futebol/chapecoense

miércoles, 13 de enero de 2016

1.500, el año que no ha terminado


Escrito: Eliane Brum

Un niño de dos años fue asesinado. Un hombre le acarició el rostro. Y le metió una cuchilla en el cuello. El bebé era un indígena del pueblo kaingang. Su nombre era Vitor Pinto. Su familia, como otras de la aldea donde vivía, había llegado a la ciudad para vender artesanía poco antes de la Navidad. Se quedarían hasta el Carnaval. Se guarecían en la estación de autobuses de Imbituba, en el litoral de Santa Catarina. Era allí donde su madre lo alimentaba cuando un hombre le perforó la garganta. Era el mediodía del 30 de diciembre. El año 2015 estaba muy cerca del final.

Y Brasil no paró para llorar la muerte de un niño de dos años. Las campanas no doblaron por Vitor.

La prensa nacional ni siquiera puso de relieve su muerte. Si fuera mi hijo, o el de cualquier mujer blanca de clase media, el asesinado en esas circunstancias, habría titulares, habría especialistas que analizarían la violencia, habría llanto y habría solidaridad. Y tal vez hubiera hasta velas y flores en el suelo de la estación de autobuses, como en el caso de las víctimas del terrorismo en París. Pero Vitor era un indígena. Un bebé, pero indígena. Pequeño, pero indígena. Víctima, pero indígena. Asesinado, pero indígena. Perforado, pero indígena. Ese “pero” es el asesino oculto. Ese “pero” es un serial killer.

La fotografía que ilustró las pocas noticias sobre la muerte del pequeño indígena muestra el suelo de grava y cemento de la estación de autobuses. Un par de chanclas havaianas azules, con motivos infantiles. Un botellín de plástico, una estrellita de juguete, de aquellas de hacer moldes en la arena, una tapa de plástico de lo que parece ser un cubo de playa, un pequeño embalaje en formato de tubo, un paño florido amontonado junto a la pared, tal vez una sábana. Se presenta como “el lugar del crimen” o como “las pertenencias del niño”.

Esa foto es un documento histórico. Tanto por lo que en ella está como por lo que en ella no está. En ella permanecen lo descartable, los objetos de plástico, las chanclas que quedaron. En ella no está aquel al que borraron de la vida. La ausencia es el elemento principal del retrato.
Los indígenas solo pueden existir en Brasil como grabado. Apreciados como ilustración de un pasado superado, los primeros habitantes de esta tierra, con su desnudez y sus tocados de plumas, una cosa bonita para colgar en algunas paredes o estampar aquellos libros que adornan mesas de salas. Los indígenas tienen lugar si están disecados, aunque en cuadros. En el presente, su persistencia en existir se considera inconveniente, de mal gusto. En el Congreso se están tramitando varios proyectos para quedarse con sus tierras en nombre de la exploración y el “progreso”. Hay muchos territorios indígenas debidamente reconocidos que el gobierno de Dilma Rousseff (PT) no homologa porque quiere construir en ellos grandes obras o porque teme herir los intereses de la agroindustria. Hay una Fundación Nacional del Indio (FUNAI) que se está desmantelando progresivamente, tan frágil que a menudo se revela también indecente. En el pasado, los indígenas son. En el presente, no pueden ser.

Como dice el antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, los indígenas son especialistas en fin de mundo, ya que su mundo se acabó en 1500. Sin embargo, tuvieron la desfachatez de sobrevivir al apocalipsis promovido por los dioses europeos. Aunque se haya exterminado a cientos de miles, han sobrevivido a la extinción total. Y porque sobrevivieron se continúa asesinándolos. Cuando no se consigue matarlos, la estrategia consiste en convertirlos en pobres en los suburbios de las ciudades. Cuando se convierten en pobres urbanos, se les llama “indígenas falsos”. O “paraguayos”, en un prejuicio más contra el país vecino. En el pasado, los indígenas son alegoría. “Mira, hijo mío, cómo eran valientes los primeros habitantes de esta tierra”. En el presente, son “obstáculos al desarrollo”. “Mira, hijo mío, cómo son feos, sucios y perezosos esos indígenas falsos”. Los indígenas necesitan ser falsos porque sus tierras son verdaderas –y ricas–.

La muerte de los pequeños indígenas no cambia ninguna política, las fotos de su ausencia no conmueven a millones.

Si Vitor era un obstáculo, se eliminó ese obstáculo. Por eso la foto es un documento histórico. Si hubiera alguna honestidad, esa imagen es la que debería estar en las paredes.

Parece que no basta que Vitor, un bebé de dos años, pasase semanas en el suelo de una estación de autobuses, porque la violencia contra su pueblo fue tanta y durante tantos siglos, y aún hoy continúa, que sus padres, Sonia y Arcelino, necesitan dejar la aldea para vender artesanía. A precios bajos, porque devaluados están los artesanos. Es importante notar el nivel de desamparo que lleva a alguien a considerar una estación de autobuses un lugar seguro y acogedor. Los terminales son lugares de paso, y la familia de Vitor, así como la de otros indígenas, se abriga allí porque circula gente. Una estación de autobuses es tierra de nadie. Por eso en ella suelen caber los mendigos, los niños de la calle, los borrachos, las putas, los parias. Y los indígenas. O cabían. Ahora tal vez ya no quepan.

Las estaciones de autobuses son espacios de circulación de extraños, y, por ser “los otros”, los extranjeros nativos, los indígenas creen que en este lugar tienen la oportunidad de escapar de la expulsión. Pero en seguida son expulsados. Una parte de la población de los municipios en que los indígenas aparecen con su artesanía cree que la estación de autobuses es demasiado buena para los indígenas. “La estación de autobuses es un símbolo de la ciudad, en un período en el que tanta gente está viajando, llegando. ¿Qué imagen van a llevarse de la ciudad?”, preguntó un comerciante de São Miguel do Oeste, también en Santa Catarina, para justificar la expulsión de los indígenas del lugar antes de la Navidad.

Vitor ya no estropea el paisaje de nadie. De él no hay ni siquiera un rostro. La foto de su ausencia no conmoverá a millones en todo el mundo, como con el niño sirio traído por las olas del mar. La muerte de los pequeños indios no cambia ninguna política.

Antes me acusen de precipitación, exageración o injusticia, hay que decirlo: los “ciudadanos de bien” no quieren que se les perfore el cuello a los niños indígenas. De modo alguno. Solo que estén fuera de vista. En otro lugar, donde no contaminen, ensucien o afeen. Pero tampoco en sus tierras, si estas son ricas en minerales, fértiles para la soja o buenas para el pastoreo de ganado. Eso ya es un abuso. Apenas que desaparezcan. Pero matar, no, matar ya es maldad.

2015 fue el año en que Brasil fue bicampeón con este discurso. El diputado estatal Fernando Furtado, del Partido Comunista de Brasil (PCdoB), fue reconocido como “Racista del Año” por la organización Survival International, por su declaración antológica, al manifestar en una audiencia pública: “Allá, en Brasilia, Arnaldo vio a los indígenas todos con camisetitas, todos arregladitos, con flechitas, todos una pandilla de mariconcitos, que había unos tres que eran maricones, estoy seguro, maricones. No sabía que había indígenas maricones, lo fui a saber aquel día en Brasilia... Todos maricones. Así que, de esa forma, ¿cómo es que los indígenas ya consiguen ser maricones y no consiguen trabajar y producir? ¡Negativo!”.

Para una parte de los habitantes de las ciudades de la región sur, los indígenas “ensucian” el paisaje.

El diputado se refería a los awa-guajás, considerados uno de los pueblos más vulnerables del planeta. La conquista de Fernando Furtado, sin embargo, no es inédita. Otro parlamentario, Luis Carlos Heinze, en este caso diputado federal por el Partido Progresista (PP) de Rio Grande do Sul, ya había subido al podio en 2014, con la siguiente declaración: “El gobierno... está compinchado con los quilombolas, los indígenas, los gais y las lesbianas, todo lo que no vale nada”. Todo indica que Brasil es casi imbatible para convertirse en tricampeón. Se habla tanto de un país polarizado, pero el premio prueba que los indígenas son un raro punto de unanimidad entre cierta derecha y cierta izquierda de esta gran nación.
 
Manifestación de Hermanos Originarios en las calles de  Chapecó, lugar de origen del niño Vitor, muerto en Imbituba (Foto: Isabel Malheiros/RBS TV)
Vitor, el bebé asesinado, vivía en la aldea de Condá, en el municipio de Chapecó, en el oeste de Santa Catarina. Los crímenes cometidos por el Estado contra el pueblo kaingang, de la región sur de Brasil, están registrados en el Informe Figueiredo, un documento histórico que se creía perdido y que se descubrió a finales de 2012. El informe, de 1968, documentó el tratamiento dado a los pueblos indígenas por el antiguo Servicio de Protección a los Indígenas (SPI). En total, el fiscal Jáder Figueiredo Correia dedicó 7.000 páginas a contar lo que su equipo vio y oyó. Cualquier persona que quiera entender por qué Vitor se guarecía en el suelo de la estación de autobuses de Imbituba, en vez de pasar los meses de verano seguro, saludable y feliz en su aldea, tiene una rica fuente de información en el documento disponible en Internet. Va a descubrir, entre otras atrocidades, cómo los antepasados de Vitor llegaron a ser torturados y a vivir en condiciones análogas a la esclavitud, para que sus tierras fuesen deforestadas y explotadas por los no indígenas en pleno siglo 20. Es posible que algunos de esos “emprendedores” sean abuelos de aquellos que hoy creen que indígenas como Vitor ensucian el paisaje de sus ciudades.

Comenzamos 2016 como acabamos 2015: obscenos.

Después del asesinato del bebé, la policía militar arrestó al sospechoso de siempre. Un muchacho pobre, en libertad provisional, con “una pequeña cantidad de marihuana y cocaína en la mochila”. Como no había ninguna prueba en su contra, fue puesto en libertad. Poco después arrestó a otro joven, que ahora se considera el principal sospechoso. La policía buscaba a alguien bastante genérico: con una mochila y una gorra y un tipo físico similar al que aparece en un vídeo grabado por una cámara de seguridad. La sospecha de los policías militares es que el asesino se sentiría “incómodo con la presencia de los indígenas en el lugar”. La policía civil mencionó como posibles motivos el “prejuicio”, una “enajenación mental” y “problemas psicológicos”. 

En un comunicado, el CIMI afirmó: “El Consejo Indigenista Misionero está preocupado por el clima de intolerancia que se está propagando, en la región sur del país, contra los pueblos indígenas. Un racismo —a veces velado, a veces explícito— que se difunde a través de los medios de comunicación masivos y las redes sociales”.

Quien de hecho asesinó a Vitor tal vez sea investigado, juzgado, condenado y castigado, lo que ya es una rareza en las muertes de indígenas en Brasil, marcadas por la impunidad. Pero hay que hacer preguntas más complicadas. ¿Quién armó a esa mano? ¿Qué encrucijada histórica permitió que Vitor fuese el bebé elegido por el asesino, independientemente de su cordura o locura, y no mi hijo o el suyo? ¿Dónde estamos nosotros en esta foto en la que estamos sin estar?
Se ha dicho que 2015, un año de crisis en Brasil y de horror en todas partes, es el año que no ha terminado. 2016 sería apenas un bucle. 

Tiene sentido. En la víspera de esta Navidad, Antônio Isídio Pereira da Silva, líder rural y ecologista en Maranhão, fue encontrado muerto. Era un asesinato anunciado más. Hace un año que se archivó la solicitud de inclusión del agricultor en el programa federal de protección a los defensores de los derechos humanos. Él se estaba preparando para denunciar una tala ilegal en una región con graves conflictos de tierras cuando lo asesinaron. También en Navidad, cinco jóvenes denunciaron a policías militares de Río de Janeiro por tortura y robo. Según su relato, volvían en tres motos de una fiesta cuando los arrestaron policías militares de la Unidad de Policía Pacificadora de Coroa, Fallet y Fogueteiro. Además de torturas con un cuchillo caliente, mecheros y puñetazos, habrían obligado a uno de ellos a hacerle sexo oral a su amigo. En São Paulo tardó tan solo dos días en producirse la primera masacre de 2016, con cuatro muertos, en las afueras de Guarulhos. Se sospecha de venganza por la muerte de un policía militar días antes en la región.

Empezamos como acabamos. Nada, por tanto, ni ha comenzado ni ha terminado. Quienes continúan muriendo de asesinato en Brasil, en su mayoría, son los negros, los pobres y los indígenas. El genocidio continúa ante la indiferencia, cuando no el aplauso, de la sociedad brasileña. Empezamos 2016 como acabamos 2015. Obscenos. Los fuegos del Año Nuevo ya fracasaran en el artificio. Estamos desnudos. Y nuestra imagen es horrible. Ella ensucia de sangre el cuerpecillo de Vitor, por el que tan pocos han llorado.

Dicen que 2015 es el año que no termina. O que 2015 es el que no llega a su fin.

Para los indígenas es mucho más brutal: el año 1500 aún no ha terminado.

Eliane Brum es escritora, periodista y documentalista. Autora de los libros de no ficción Coluna Prestes - o avesso da lenda, A vida que ninguém vê, O olho da rua, A menina quebrada, Meus desacontecimentos, y de la novela Uma duas.

Fuentes:
El País (España) – 6 de Enero de 2.016
Santa Catarina RBSTV
Sitio web: desacontecimentos.com
Traducción de Óscar Curros